Hélder Milheiro: "A Tauromaquia é um património cultural do povo mas a sua liberdade pode ser condicionada pela política"

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A propósito das eleições legislativas do próximo domingo, e num momento em que a Tauromaquia serve de moeda de troca para angariar votos, colocámos algumas questões a Helder Milheiro, secretário-geral da Protoiro, sobre do que aí pode vir e que avaliação faz de cada partido em relação às intenções para com a Tauromaquia.

Estamos quase no dia das eleições para novo Governo, que avaliação faz de cada partido em relação à Tauromaquia?
A PROTOIRO divulgou esta semana um Guia de Votações, onde analisou as ações dos partidos e também as suas propostas para estas eleições. O balanço vem dos factos e das ações dos mesmos. PSD, CDS, PCP e CHEGA apoiam a festa sem reservas. No Parlamento agiram com propostas a favor da tauromaquia e votaram em consonância. A Iniciativa Liberal é a favor, defende a existência de tauromaquia, mas não aprovou a existência de apoios públicos ou redução de IVA. O PS, apesar de sempre ter sido um partido defensor da tauromaquia, tal como a sua bancada parlamentar, e temos de elogiar o trabalho de muitos deputados socialistas, mas com António Costa no governo, este aliou-se ao PAN e vendeu a tauromaquia como moeda de troca para a sobrevivência do governo. O governo PS discriminou o IVA da tauromaquia para 23%, tentou que os municípios pudessem proibir touradas (no processo da descentralização), acordou proibir os menores de 16 entrarem sozinhos em touradas (não chegou a fazê-lo), tentou proibir as touradas na RTP… A bancada do PS votou muitas vezes contra o governo e continuou a defender a Festa sempre que existiu liberdade de voto. Há uma contradição no PS entre a bancada parlamentar e o Governo. Agora António Costa diz que quer governar com o PAN… Com as ações deste governo não podia ter outra classificação do que "contra a tauromaquia”. Totalmente contra são os restantes partidos, BE, PAN, LIVRE e PEV.

Falou de alguns políticos e cores políticas que já demonstraram estar “com a Festa Brava”. António Costa também já esteve a assistir a corridas no Campo Pequeno, Marcelo Rebelo de Sousa até fez campanha em praças de toiros, mas depois tem sido o que se vê, ou melhor, o que não se vê a favor da Tauromaquia. Devemos acreditar portanto no que se diz agora em propaganda eleitoral?
Aquilo em que temos de acreditar é nas suas ações. Por isso, fizemos um Guia de Votações para os aficionados poderem esclarecer e perceber o que esses partidos fizeram de facto, seja na governação, seja no Parlamento. O que é dito na campanha também é importante porque é um compromisso que teremos de exigir no futuro, nesse caso da parte dos partidos que apoiam a liberdade cultural e a tauromaquia.

Uma maioria de esquerda como alguns pretendem, e pode ser o caso, uma geringonça II que reúna agora por exemplo o PAN, é um futuro negro para a Festa?
O PAN fez sempre parte da geringonça. Não esteve no acordo escrito mas foi sempre parceiro nas negociações e o PS deu-lhe sempre algumas migalhas na primeira legislatura de 4 anos. Nos últimos dois anos, como o governo estava totalmente dependente, cedeu ainda mais ao radicalismo do PAN e atacou as Touradas na RTP, ia proibir os menores de 16 de entrar nas touradas, só não o fez porque o governo caiu. Por imposição do PAN criou a Provedora do Animal para atacar os setores com animais, caça, pesca, pecuária, em especial a tauromaquia, e fazer campanhas animalistas. O PAN veio ainda dizer que também tinha acordado proibir as praças desmontáveis se o Orçamento de Estado tivesse sido aprovado. Este é o estado de coisas se se mantiver o actual cenário político.

Houve quem dissesse “A Tauromaquia não é de esquerda, nem de direita, é do Povo”. Devemos politizar a Tauromaquia?
A tauromaquia é um património cultural do povo, ou seja, de todos. Não pertence a ninguém, mas ela age na esfera política porque a sua liberdade é ou pode ser condicionada pela política. Todo e qualquer âmbito da nossa vida é influenciado pela política e todos fazemos parte da vida política, enquanto cidadãos. Outra coisa é a partidarização da tauromaquia. Isso não deve acontecer nunca. A tauromaquia é um espaço de liberdade e diversidade. A Tauromaquia é de todos e para todos.

Laurentina Pedroso, a Provedora do Animal, numa entrevista ao jornal "Público" a 4 de Janeiro referiu: "As touradas não vão ficar iguais. Tem de se deixar de usar objectos perfurantes". Até agora não verificámos qualquer tomada de posição perante isto, por parte dos agentes taurinos. É alguma estratégia?
Obviamente. Essa entrevista e esse tema não foram lançados neste período de eleições por acaso. Pretendiam criar uma polémica para envolver as touradas. Como é óbvio não íamos vender o ouro ao bandido, caindo na armadilha. A Provedora do Animal é um cargo político para impor a agenda animalista, como disse, foi criado pelo governo PS por exigência do PAN. Mais um negócio político. A partir daqui fica claro para que serve e o que pretende fazer. Vale o que vale.

Mudando o Governo, podemos acreditar no regresso das corridas televisionadas ao canal do estado?
Com ou sem mudança de governo não podemos aceitar que passe mais um ano sem transmissões televisivas na RTP. Essa é uma luta que estamos a travar e as corridas têm de regressar à RTP, se esta quer ser um serviço público de todos os portugueses e para todos os portugueses. Este governo fez tudo para tentar impedir as transmissões, incluindo o novo contrato de serviço público de televisão, mas a ERC pronunciou-se contra a possibilidade de qualquer proibição, por ser ilegal. Foi muito importante ver 125 personalidades a assinar a Carta Aberta promovida por cerca de 40 autarcas contra esta tentativa do governo, onde se incluíram dois ex ministros da cultura, dois ex secretários de estado da cultura, dezenas de deputados desde o PCP, PS, PSD e CDS, artistas, músicos, jornalistas… A RTP tem de estar ao serviço dos portugueses promovendo o acesso à cultura portuguesa como é sua obrigação e não pode ser um instrumento político. Os portugueses sem poder económico, os que vivem longe de praças de toiros, os emigrantes, não podem ser privados de aceder à cultura portuguesa, como é obrigação da RTP, enquanto serviço público de televisão. Nem imaginam como os emigrantes nos contactam nas redes sociais a pedir para poderem ver corridas no canal público. Para eles é importantíssimo sentirem essa ligação às raízes, ao seu país, e não percebem como isso lhes pode ser negado.




Fotografia: Frederico Henriques
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