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    Campo Pequeno: “Houve ‘Graves’ e graves…”

    O cartel da segunda corrida de toiros do abono do Campo Pequeno foi, na minha opinião, o que esteve perto de ser o mais rematado dos quatro que este ano foram apresentados para Lisboa. Toiros, toureiros, forcados… estava praticamente tudo. Talvez um ou outro ajuste…mas a corrida despoletava bastante interesse.

    A casa esteve cheia, três quartos de lotação, o que tendo em conta que se realizava numa altura do ano em que a grande maioria das pessoas ainda se encontra de férias, é por si, um feito.

    Já a corrida, essa foi longa, com algumas peripécias que não só não abonam a favor do espectáculo como nalguns casos cortaram…a atenção! 

    Diz o ditado que “Deus põe, o homem dispõe e o toiro descompõe” mas ontem à noite foi o Homem quem descompôs… Nem me refiro à tentativa (mais uma vez) gorada do anti-taurino holandês, não dou tempo de antena a gente dessa, mas de outras situações que num espectáculo taurino e para mais acontecendo na primeira praça de toiros do país, o Campo Pequeno, não se deveriam passar. 

    O piso não estava em condições, muito mexido, os cavalos escorregavam… e pelos vistos ninguém deu por isso antes, foi preciso sair o primeiro toiro para haver ‘reclamação’ e gerar uma ‘pausa’ na corrida para ir um tractor ‘lavrar’! Era evitável…

    E depois houve um toiro que se desembolou facilmente durante uma lide e ‘partiu-se’ a actuação a meio para ficarmos ali à espera uns quinze minutos de que fosse “corrigido” e o mesmo toiro voltasse à arena.

    Sim, tudo situações passíveis de acontecer! E dava de barato se fosse noutros festejos, onde as condições por vezes também não são as melhores…

    Agora ao Campo Pequeno temos que exigir os melhores toureiros, os melhores curros, os grandes grupos de forcados, pedir exigência e critério a quem toureia mas também a quem aplaude das bancadas, e por isso também temos que exigir que toda a envolvente do espectáculo seja cuidada para minimizar efeitos colaterais. 

    Os mais sérios da noite foram mesmo os toiros. Esses não inventam, não vulgarizam, não ludibriam espectadores com artífices. Ou é ou não é! A casta dos de Galeana foi uma vez mais a tónica de toda a corrida. Já diria o outro “foi um curro com nuances de bravura”. E efectivamente foi um curro sério, com raça, que transmitiu muita emoção. Em apresentação, o burraco que saíu em primeiro destoava em tamanho, sendo pesado mas ainda assim harmónico; já os restantes foram mais homogéneos, tiveram trapío, boas hechuras, com cara. Um curro para uma praça de primeira! Em comportamento, o primeiro andou melhor pela frente que por trás e com o decorrer da lide veio de menos a mais. O segundo teve grandes condições, arrancou-se praticamente de todos os terrenos com transmissão, meteu bem a cara nos capotes dos peões de brega, pecou também não ser tão voluntarioso a perseguir após a ferragem mas ainda assim um grande toiro; o terceiro foi ‘murteira’ à antiga, pedia contas, tapava-se um pouco, adiantava-se… era um toiro para senhores toureiros que é diferente do ser “toiro para toureiros”, conceito que revejo mais no quarto toiro, que foi bravo, a investir sempre fixo na montada, ainda que nos ladeios que lhe foram impostos tivesse um recorrido mais cómodo. Este quarto toiro levou a que fosse concedida volta do ganadero à praça. O quinto toiro partilhou de algumas das condições dos irmãos, arrancando-se aos cites do cavaleiro com raça; o sexto foi outro bom toiro, nobre e colaborante.

    João Moura Jr. teve duas actuações distintas em Lisboa. A primeira mais à cautela, sem romper e levou por tabela o estado do piso, o número do anti e consequentemente a distracção do público. Antes cumprira a ferragem da ordem sem grandes referências, incidindo nos cites de praça a praça e com batidas no momento dos ferros. Deixou três curtos e não teve para esperar pela resolução da detenção do anti: abreviou e porta dos cavalos dentro. Na que foi a sua segunda actuação, Moura Jr. fez jus ao bom momento que atravessa. O jovem toureiro está bem montado e moralizado, e isso sentiu-se nesta sua lide. Aproveitando as condições nobres e bravas da rês, entoou a lide levando o toiro fixo na montada em ladeios pelo ruedo mas foi com as já habituais ‘mourinas’ que elevou o tom e a euforia das bancadas. Teve o público no bolso com os dois grandes ferros nessa sorte que popularizou, e o entusiasmo foi tal, que o que toureou a menos na primeira lide, toureou a mais na segunda…acabando a actuação por ir a menos, com uma passagem em falso, um ferro falhado…até emendar mão.

    Também Francisco Palha pautou por resultados díspares nas suas duas actuações. É todo um toureiro, até nos gestos, já que brindou a sua primeira actuação aos agentes da PSP presentes na corrida, possivelmente em agradecimento à prontidão das autoridades na detenção do anti-taurino. Depois, sentiu-se o cuidado na brega, em mudar o toiro de terrenos. E tourear é também isso, como já o escrevi tantas vezes, não é nem pode ser só cravar ferros. Tourear é primeiro que tudo entender o toiro que se tem por diante, impor ao toiro a investida, e foi isso que Palha tentou fazer. Iniciou com um ferro comprido em sorte gaiola e nos curtos, quis mostrar e aproveitar as qualidades do oponente para o fazer investir de vários terrenos da praça. Logrou três ferros curtos com transmissão mas também ele a optar por encurtar o desempenho cedo demais. Frente ao quinto tinha tudo para outra boa lide, inclusive deu importância aos compridos, algo raro de se ver hoje em dia. No entanto o toiro desembolou-se de um piton…e quinze minutos depois, na espera de voltasse embolado, a cabeça de Palha mudou. A consistência não foi a mesma, o toiro perdeu algumas vezes a mão no momento do ferro, uma passagem em falso, um ferro falhado…e a confiança do cavaleiro ficou abalada. Teve sobriedade para entender não dar volta e apenas agradecer no centro da arena. 

    O rejoneador Andrés Romero, muito rodado esta temporada em Portugal, apresentava-se em Lisboa com alguma curiosidade e inclusive depois de um forte triunfo em Madrid. No entanto nem tudo foram rosas para o espanhol. Não teve argumentos para tocar as teclas do sério terceiro toiro e portanto, nada a registar, tudo a esquecer. Melhorou o registo no último, um daqueles toiros que todos gostariam de tourear, onde evidenciou os ares do rejoneio e as habilidades equinas.

    Nas pegas o valor também foi real com dois dos mais conceituados Grupos de Forcados Amadores, os de Montemor e os de Évora, estes últimos honradamente homenageados após as cortesias pelos 60 anos da sua fundação. 

    Pelos Amadores de Montemor pegou o valoroso Francisco Borges à segunda, depois de um primeiro intento em que o toiro entrou com pata pelo Grupo, a derrotar, e acabando por tirar o forcado da cara. Ao segundo intento, Francisco Borges voltou a estar poderoso na cara do oponente com uma enorme primeiro ajuda do seu cabo, António Pena Monteiro; Vasco Ponce consumou à primeira, também ele a aguentar de braços os fortes despejos do toiro, mesmo com o grupo a tentar efectivar; José Pena Monteiro encerrou função da sua fardação, com uma boa pega à primeira, onde novamente a ajuda do cabo foi de salientar.

    Pelos Amadores de Évora, pegou Ricardo Sousa à segunda com o toiro a arrancar-se com pata e a levar o forcado até tábuas onde o grupo ajudou a consumar; José Passanha aguentou bem a investida do toiro até tábuas e consumou à primeira; e José Maria Caeiro fechou a noite com uma boa pega consumada com decisão à segunda tentativa.

    Dirigiu a já longa corrida a delegada técnica, Lara Gregório, assessorada pelo veterinário Jorge Moreira da Silva.