Campo Pequeno: “Uma noite feliz de Manuel Dias Gomes”

NATURALES
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A empresa do Campo Pequeno anunciou há alguns meses uma mini Feira Taurina para Setembro. Foi um risco! 

Primeiro porque as “feiras taurinas” organizadas em Lisboa nos tempos recentes não deixaram boa memória, depois porque sendo em início de mês, após as férias grandes, regressos à escola… ter dois espectáculos próximos era uma despesa que alguns obviamente poriam de lado, e por último, porque a incerteza no cartel da corrida mista, que veio a ser remendado (novamente) de véspera, afastou muitos dos que apenas iriam para ver determinado artista.

Tudo isso, e mais alguma coisa porque arranjamos sempre desculpa para tudo, servirá de justificação ao resultado de uma meia casa de lotação. No entanto, o ambiente festivo que se viveu dentro de praça, fez crer muitas vezes que as bancadas estavam praticamente cheias, tal a euforia nalguns momentos.

Mas se há algo que mais retiro desta corrida é o ser-se agradecido.

Agradecidos ao Manuel, aliás aos Manuéis: ao Manuel Jesus “El Cid” e ao Manuel Dias Gomes.

Agradecidos a Manuel Dias Gomes por ter aceitado substituir Cayetano Ordoñez a um mês do festejo, ainda que, suponho, mais agradecido esteja ele por ter vindo a integrar um dos cartéis da primeira praça do país. E agradecidos a El Cid que aceitou substituir Morante apenas a 24h da corrida. E isto é também ser Figura…

É que qualquer um dos dois, e com todo o respeito que merecem pelas suas trajectórias, uma mais comprida que outra, sujeitaram-se a ser o Plano B para esta noite em Lisboa. E não é fácil ser-se a segunda escolha, pois recai sempre o peso de que se substitui “alguém melhor”… e ambos os ‘Manuéis’ contrariaram esse pensamento, pelo que mais agradecidos lhes devemos estar pela noite de bom toureio que nos proporcionaram. Pelo que, só fez falta quem esteve.

Manuel Jesús “El Cid”, que já tinha história bonita com Lisboa de outras épocas, voltou a demonstrar a entrega e o respeito pelos aficionados de Lisboa. Quando o seu primeiro toiro de Calejo Pires se deixou ver de capote e bandarilhas, sendo custoso de se fixar, com pouca força, sem se empregar… outro no seu lugar teria pensado em abreviar a faena de muleta. El Cid não! O sevilhano fez crescer a rês na flanela, fazendo-a investir com recorrido, valendo-se de boas séries pela direita numa actuação de valor e mérito. Já frente ao segundo do seu lote, um castanho ojo de perdiz, bonito de Varela Crujo, as opções foram mais limitadas e mais não se viu que o profissionalismo e a entrega de um toureiro maduro, figura do toureio.

E por falar em entrega, vi Manuel Dias Gomes no Campo Pequeno nessa noite como creio não o ter visto antes. A rês de Varela Crujo que lhe tocou como primeiro do seu lote não tinha muita classe nas investidas, sendo brusco, mas Manuel não desarmou. O toureiro esteve muito confiado e a faena foi essencialmente de muito arrimo, logrando bons passes pela direita. O seu valor foi facilmente reconhecido pelo público que o aplaudiu bastante. Já frente ao que foi último do festejo, um bonito e astifino de Calejo Pires de boas condições, o toureio foi mais largo, com oficio por ambos os pitons. Manuel Dias Gomes recriou-se em cada tanda, rematadas geralmente com a mão esquerda. Uma noite feliz para Manuel Dias Gomes, sem dúvida. 

Palavra ainda aos bandarilheiros lusos ao serviço de Dias Gomes que destacaram no respectivo tércio, Pedro Noronha, João Martins e João Pedro Silva. 

A cavalo iniciou-se a noite a duo e pouco há a registar, perante uma dupla com pouco entrosamento, onde foi mais feliz Moura Caetano e mais desencontrado, Marcos Tenório ‘Bastinhas’.

A solo cada um ‘cantou’ à sua maneira.

João Moura Caetano tem um toureio assente no temple que se coadunou com a mobilidade a compasso do encaste da ganadaria que o próprio representa, Irmãos Moura Caetano. O toiro que lhe tocou em sorte era nobre mas de pouca transmissão, perseguindo sempre a passo, e consentiu que o cavaleiro de Monforte pautasse por cravar bons ferros e se evidenciasse nos remates. 

Marcos Bastinhas esperou o seu toiro à porta gaiola e levou-o em boa brega pela praça com o oponente a perseguir com vontade. Deu importância à ferragem comprida para nos curtos dar importância ao adorno. Ferros de violino e o par de bandarilhas fizeram eco nas bancadas numa actuação efusiva.

Se outros triunfadores houve esta noite, foram os Amadores de Lisboa. Três pegas à primeira sem complicações. Nuno Fitas abriu a noite aguentando de braços o derrote alto; Daniel Batalha fechou-se à córnea e aguentou até ao grupo que, coeso, consumou; e João Varanda com decisão consumou uma pega rija e novamente o Grupo a coadjuvar bem.

Lidaram-se reses de Irmãos Moura Caetano a cavalo, em tipo do encaste murube, pesados e cómodos, com mais transmissão o terceiro das lides equestres; e a pé de Varela Crujo e Calejo Pires, com mais recorrido os dois desta última.

Dirigiu a corrida Ricardo Dias, assessorado pelo veterinário José Luís Cruz.

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