• terça-feira, 9 de janeiro de 2024

    Opinião: “Mourão: fora da caixa e do ‘polvo’”

     

    Ver chegar o dia 1 de Janeiro, é não só motivo de renovação na esperança num novo ano, como serve também para nos animar à chegada de uma nova época tauromáquica com o anúncio dos primeiros cartéis que compõem os Festivais Taurinos em Mourão.

    E o bom do defeso é também isso, o ganharmos saudade e fome de toiros mas também o dar-nos tempo para podermos repensar a Tauromaquia que temos, que queremos e (achamos) que merecemos… 

    Nem sempre depois, com o desenrolar da época, isso se verifica. Pelo menos para alguns aficionados como eu, que não nos contentamos com o satisfatório, com o mais do mesmo, com a falta de rigor e de exigência… Mas depois lá vem novamente o defeso, a cabeça ‘limpa’… e vem também Mourão!

    Mourão que, além de ser a minha terra e por isso ainda mais me envaidece e enche de ilusão aguardar por saber o cartel do Festival da Senhora das Candeias, é também já um marco na Temporada Taurina portuguesa e não só.

    O dia 1 de Fevereiro, para qualquer mouranense, sempre foi uma data aguardada e especial por ditar o primeiro de três dias da Festa em Honra da Padroeira. O dia em que a festividade religiosa e a festa tauromáquica acontecem em simbiose, desde os tempos idos em que havia a antiga “vacada”, cujo final culminava com a morte em praça do ‘toiro de Nossa Senhora’ (o maior saído nessa tarde à arena), e cuja carne era à noite distribuída ou vendida, pela população. Tradições perdidas, adaptadas aos tempos correntes, e substituídas pelo formato de Festival Taurino que em boa hora deu maior importância à Tauromaquia em Mourão. 

    Hoje, para o público e afición em geral, não marcar presença nos Festivais Taurinos em Mourão no início de Fevereiro, é quase estigma de mau aficionado. Pelo que estar, impera! E assim, a vila primeira em Portugal na margem esquerda do Guadiana, agora convertido naquela zona ao lago de Alqueva, enche-se de gente ali nascida e de forasteiros para festejar a Senhora das Candeias e a abertura da Temporada em Portugal.

    Sim, não é de agora que no festival de Mourão se vislumbram Figuras do Toureio, sejam elas nacionais ou não. Grandes Figuras até passaram pela castiça praça de toiros daquela vila alentejana nos seus inícios de carreira. Mas, e creio ter legitimidade para opinar que, será de agora que o estatuto do Festival mais importância ganhou!

    E esse estatuto adquirido, muito se deve a quem o organiza há uma década (a cumprir precisamente este ano), pela sua enorme afición obviamente, por carolice certamente, mas também por de alguma forma ele próprio se sentir um mouranense e quiçá até por seguir as pisadas do progenitor, que outrora também organizou este festival taurino com a mesma dedicação e importância que hoje, o Dr. Joaquim Grave o faz.

    A qualidade dos cartéis, pese embora nem todos tenham a capacidade por vezes de a entender, afinal o desconhecimento viabiliza a ignorância; a coragem de, em vez de um e na maioria dos anos desde então, nos proporcionar dois festejos mesmo quando não é fácil contrariar a habituação de um povo ao ‘programa das festas’; o saber dar oportunidade aos mais novos (raríssimo isso por cá); o dom de trazer os consagrados e os que estão ‘na berra’; o variar os intervenientes nas diversas categorias; a importância e a sobriedade impingida a este já acontecimento no calendário taurino português, contrastam com muito do que vislumbro vir a ser a demais época tauromáquica no nosso país. 

    Ainda que o ano ainda agora esteja a começar, mas tendo em conta o que se vai perspectivando para a temporada, ouvindo daqui e sabendo dali, muito me entristece o rumo de uma Tauromaquia cada vez mais dominada por um ‘polvo’, com tentáculos por tudo que é lado na monopolização de cartéis, na gestão de empresas e artistas, e até da imprensa… A que acresce a falta de profissionalismo e ética, entre organizadores que promovem festejos onde, se querem tourear, convém além da quadra de cavalos também levarem a rês para o fazerem; aos que ‘convidam’ à participação em festivais de forma gratuita dando por moeda de troca, uma possibilidade remota, de mais tarde virem a incluir um festejo maior naquela praça; à evidente troca de artistas entre os empresários-apoderados; aos artistas que se for preciso não se importam mesmo nada de não se fazerem pagar e pelo contrário, até pagam os próprios para tourear; entre outras situações que aos poucos revelam uma Tauromaquia pobre de seriedade e manipulada.

    Quem ganha com isto? 

    Sinceramente, não sei… Mas quem perde, bem sei que é o (verdadeiro) aficionado.

    Posto isto, Mourão é (ainda) totalmente fora da caixa, fora ‘do polvo’ e com uma responsabilidade de marcar a diferença e dar o mote para uma época tauromáquica com qualidade.

    Pelo que, como aficionada mas principalmente como mouranense, espero que o Dr. Joaquim se anime a continuar nestas lides em Mourão no mínimo por mais dez anos. 

    E agora, contagem decrescente até 1 e 4 de Fevereiro… 

    O resto da Temporada depois, olhem, seja o que Deus quiser!