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    Campo Pequeno: (ainda é) primeira praça do país e para se tourear


    A banalidade da tauromaquia, do toureio e do seu entorno, é uma constante em qualquer praça. Pelo que todas as praças têm os seus momentos de exigência e de vulgaridade simultaneamente, fruto dos empresários que as gerem e que montam os cartéis, das aptidões dos toureios que nelas actuam mas principalmente pelos diferentes públicos, e seus (ou falta deles) conhecimentos.

    A Praça de Toiros do Campo Pequeno é, de há um bom tempo para cá (não, não é de agora), sempre o alvo mais fácil para se criticar, talvez por ser a praça portuguesa com maior visibilidade, a primeira praça do país, aquela que muitos apelidaram de Catedral do Toureio a Cavalo. No entanto, e muito por culpa dos factores acima citados, tem muitas vezes ficado aquém de uma praça onde a exigência deveria ser a regra maior. E essa condição tem favorecido os aproveitadores, os que fazem do Campo Pequeno e do seu público eclético, um alvo fácil para triunfos fantasiosos em exibições paupérrimas, e onde de vez em quando, os ainda exigentes existentes em praça, põem muitos 'en su sitio'.

    Ontem, 8 de Agosto, o Campo Pequeno viveu o seu cartel ‘menor’ dos quatro apresentados para esta temporada. Menor porque é sempre mais fácil desconfiar de um cartel de seis cavaleiros (que sempre os houve), com três grupos de Forcados Amadores que não fazem parte do top ten da forcadagem (mas todos eles com provas dadas), e numa data em que muita gente está de férias (é o que pelos vistos nos dá o Covões de disponibilidade, mas quantos festejos não os há por este Agosto fora noutras praças?!).

    Depois de apelos ali e acolá, dando conta que se a praça não enchesse era “culpa” do aficionado, como se tivesse sido este a montar o cartel e a pôr o mesmo com transmissão televisiva (o que favorece a preguiça de ficar em casa a ver), a verdade é que a praça de toiros se compôs, com uma boa casa de público, e muito ambiente (por vezes excessivo) nas bancadas.

    A destacar deste festejo, sem sombra de dúvida, o canal OneToro, porque um ano mais apostou numa transmissão televisiva de uma corrida de toiros de Portugal para o Mundo. E que bom seria podermos efectivamente mostrar aos outros, o Melhor que temos de toureio por cá, incluindo claro, toureio a pé?!

    E tendo a corrida sido televisionada, ainda que a pagar já que os canais públicos portugueses fazem veto aos toiros, muito pouco haverá para contar, pelo menos aos que assistiram com os próprios olhos.

    O curro de toiros da ganadaria Vinhas, fora anunciado como um curro pesadíssimo. E de verdade, foram apresentados alguns pesos excessivos (quase 700kg…) mas nem por isso saíram fartos de carnes, sendo díspares de apresentação, alguns até avacados e um ou outro ‘rabito’ (pormenores que não deveriam surgir na 1ª praça do país…?!), e na maioria, reses com pelagem típica da linha da ganadaria. Em comportamento houve pouca transmissão no geral, sendo bom e ao gosto dos toureiros, o saído em segundo lugar.

    Não é fácil abrir cartel mas Ana Batista está moralizada e confiada no ‘Hermoso’, pelo que a actuação foi em crescendo, e sempre a atacar um toiro que a esperava; João Moura Caetano teve o ‘brinde’ da noite, um toiro nobre, que deu permissão ao toureio templado do cavaleiro principalmente com o ‘Campo Pequeno’; Manuel Telles Bastos cumpriu sem deslumbrar, aliviando alguns ferros perante um toiro que se adiantava nas sortes mas que foi dos poucos que se arrancava com transmissão às montadas; Duarte Pinto teve o mais pesado da noite (680kg), e acusou essa fatura sem ganhar o piton ao toiro e as sortes a resultarem atravessadas; o rejoneador Andrés Romero bailou mais do que toureou, aproveitando-se das câmaras televisivas para um número que não caiu bem aos exigentes em praça. Estendeu a lide por onde pôde, e no final quis finalizar o ‘triunfo’ levando as montadas na volta à arena, o que o ‘inteligente’ não permitiu; Luís Rouxinol Jr. foi o mais novo, último do cartel e o que teve a maturidade de, não sendo lide redonda como, pelo menos eu, gostaria, mas de ombrear com a seriedade que a praça exige: lidou o toiro, mediu terrenos, cravou certeiro, rematou as sortes e isto, perante uma rês que não era fácil, que não se empregava, pelo que não é só o toureio que cada um pratica que se define o bom toureiro mas muitas vezes, pelo toureio que se pratica perante toiros de diferentes condições. Rouxinol Jr. encerrou o festejo, recordando-nos que ainda se toureia (bem) na primeira praça do país, a Praça de Toiros do Campo Pequeno.

    Nas pegas, a competição entre os três grupos em praça foi notória, bem como o facto de serem muito acarinhados pelo público que veio atrás deles (e isto também é salutar e de enaltecer).

    Pelos Amadores de Coimbra, pegou Pedro Casalta à primeira com o toiro a sair a direito e sem causar problemas; André Macedo pegou no seu segundo intento, depois de um primeiro em que caíu na cara do toiro, fechando-se à córnea e a aguentar bem a investida do toiro. Pelos Amadores de Monsaraz, André Mendes consumou uma grande pega à primeira com o grupo a efectivar bem; e João Ramalho fechou-se à córnea concretizando bem à primeira. Pelos Académicos de Coimbra, Francisco Gonçalves consumou à terceira depois de dois intentos anteriores em que o toiro saíu com pata e a derrotar; e João Tavares fechou-se à barbela muito bem à primeira.

    Dirigiu a corrida o delegado técnico Manuel Gama, assessorado pelo veterinário Jorge Moreira da Silva, numa noite em que houve ainda uma singela homenagem à família Bohórquez, representada na arena pelo rejoneador Fermin Bohórquez e um minuto de silêncio em memória do antigo bandarilheiro e ganadero, Manuel Rosa 'Tátá'. Ressalvar ainda que abrilhantaram este festejo 2 bandas: a do costume, do Samouco, e a.convidada, da Arruda dos Vinhos.


    Patrícia Sardinha