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    Moura: "Bateria no limite"


    Fazia mais de um ano desde a última vez que entrei numa praça de Toiros.

    Não por algum motivo demasiado contundente para isso acontecer, mas por confesso desânimo e entusiasmo em relação àquilo que se passa nas nossas arenas.

    Os triunfos que se leem por aí durante o ano são maioritariamente falsos, sem a força que lhe apregoam, sem a emoção que lhe dirigem, sem o interesse que podem parecer ter. Já são vários e longos anos aqueles que tenho dedicado à escrita taurina, e, desde o já longínquo ano de 2011 em que assinei o meu primeiro escrito, sinto que a minha bateria social/profissional relacionada com este meio, está fraca e sem grande capacidade para carregar e arranjar forças num meio que está viciado e preso a um regulamento incapaz de mudar a dinâmica de um espectáculo lento e moroso; viciado pela falta de inovação de quem o gere; viciado pela falta de rigor de todos os seus intervenientes; viciado por uma crítica taurina inexistente e que é raro informar de forma didática e coerente, baseada em escritos longos e pobres de conteúdo, sem interesse e que me perdem ao terceiro parágrafo.

    Posto isto, e passado mais de um ano, achei que a minha aficion me permitia ver com algum ar mais livre e leve uma Corrida de Toiros... Ao terceiro da corrida, tinha vontade de ir embora. Estoicamente aguentei para poder ter argumentos e escrever estas linhas, que no fundo me trazem alguma saudade e por isso fui a Moura esgotar a pouca bateria taurina que me sobra.

    Com o modesto cartel, ladeado por mais duas corridas no mesmo dia em locais muito próximos, vislumbrou-se cerca de meia casa (sendo generoso, para não dizerem que sou muito implacável), com incidência maior no sector da sombra, que, tal como eu, aguentou 3h e 10min de uma corrida sem qualquer interesse salutar.

    O curro de São Martinho, composto por seis toiros berrendo em negro (malhados), teve apresentação aceitável, com algum exemplar de bonita harmonia, e sem apresentar grandes dificuldades aos intervenientes, sendo a falta de casta e de poder as características mais vincadas da corrida. O sexto, com tranco, fijeza e mais som que os anteriores, teve direito a volta.

    Artisticamente conta-se rápido pois não creio necessário, por chato e cansativo para quem lê, detalhar atuações tão fracas em conteúdo, exceptuando a de António Prates, a mais consistente, mais sóbria e com melhores intenções da Corrida, aproveitando um dos mais nobres e interessados toiros do curro. Com essa exceção, não vislumbrei qualquer lide no seu verdadeiro conceito.

    Filipe Gonçalves esteve irregular e sem grande disposição, crescendo no final com um palmo e o par, o seu melhor ferro; Salgueiro da Costa também ele intermitente, com destaque para os compridos, onde teve mais interesse; António Prates, como referido acima, o mais consistente e interessado em dar vida e lide ao Toiro; Joaquim Brito Paes teve uma tarde para esquecer perante um oponente difícil que ficou visivelmente diminuído após os compridos; Mara Pimenta tem graça e vontade, mas precisa de rotina e mais argumentos; Diogo Oliveira não aproveitou da melhor forma o toiro mais entregue e colaborante dos seis, parecendo algo perdido pela arena e na eleição dos terrenos, sentindo-se vários tempos mortos numa atuação que teve apenas dois ferros com melhor desenho para recordar.

    No seu tradicional dia de Festa, o Real Grupo de Forcados Amadores de Moura teve uma tarde tranquila e séria, ao nível de um grupo com 53 anos de História. Veteranos e forcados novos em ascensão (destaque para o primeiro ajuda António Lobo), denotaram coesão e capacidade suficiente para superar o desafio de se encerrar em solitário. Os toiros não apresentaram comportamento difícil ou imprevisível, foram maioritariamente pelo seu caminho, sem poder ou força suficiente para atrapalhar o bom desempenho geral do Grupo.

    Gonçalo Caeiro correcto e seguro à primeira; o cabo Valter Rico decidido também no primeiro intento; Rui Branquinho após uma reunião pouco ortodoxa fechou-se à segunda; Alexis Lafon com raça à primeira; João Ferreira, garboso e com vontade fechou-se à segunda; e, João Reganha, fechou a tarde com um desempenho ao segundo intento.

    Dirigiu com pouco critério Agostinho Borges, uma tarde longa e quente de setembro, já a pedir defeso e outros ares... Ou pelo menos mais bateria.

    Pedro Guerreiro

    Fotografia: José Charraz|Atividades Tauromaquicas