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    Luís Miguel Pombeiro: "Deixem-me trabalhar é o que eu peço. Não dêem mais cabo da Tauromaquia é o que exijo!"

    Se tudo vier a correr dentro da normalidade, de hoje a 2 meses estaremos a inaugurar a Temporada Tauromáquica 2021 em Mourão. No entanto, tudo é muito incerto face à teimosia do vírus que não nos deixa em paz. 

    Luís Miguel Pombeiro foi o primeiro a aventurar-se na organização de festejos nesta nova fase de limitações e restrições, e foi também ele que esteve à frente dos destinos da praça de toiros do Campo Pequeno. 

    Razões mais que suficientes para com ele fazermos o balanço de uma época taurina 2020 atípica, curta e que algumas lições nos pode ter transmitido.

    "Há que haver mais profissionalismo, mais promotores e viverem do negócio. Serei o único? Talvez não!"


    Passada que está a Temporada Tauromáquica possível de 2020 que balanço faz no geral?
    Foi uma temporada de resiliência, de pura afición, pelo menos para mim. Muitas vozes se levantaram, muitas reuniões, muito se disse e escreveu. Valia a pena rever tudo isso... A verdade é que demos um exemplo de que a Cultura é segura e se conseguiram fazer Corridas de Toiros ou Touradas como lhe quiserem chamar. Mais uma vez foram os Produtores (ou empresários se assim ainda lhe quiserem chamar...) que estiveram no centro do arranque. Foi uma temporada mais de afirmação e de presença, de não deixar cair a causa que tanto gostamos. Sim, porque para mim trata-se de uma causa, de uma forma de estar na vida, de sentimentos e emoções que me acompanham desde miúdo. Penso que para todos os que arriscaram foi a temporada possível e que todos os que estiveram na linha da frente são uns heróis!

    O Luís Miguel Pombeiro foi o primeiro a atrever-se a realizar uma corrida de toiros num ano complicado e atípico para todos e ainda conquistou a gestão da Praça de Toiros do Campo Pequeno, conseguindo realizar um número considerável de espectáculos (6) na primeira praça do país, contrariando as expectativas que pintavam um ano negro em Lisboa e para mais com o surgimento da pandemia. É por isso, tido por muitos, como um dos “heróis” da temporada. Concorda?
    Eu promovo aquilo que sinto. Como disse, as minhas emoções e a minha forma de encarar a vida realizam-se com o que se passa numa arena: o risco, a adrenalina, a arte, a beleza, a cor, o domínio da inteligência sobre a força bruta, a natureza, o campo. Assim arranquei por gosto, por sentir que se tinha de manter a nossa Cultura. Eu não sou nem posso ser herói porque heróis são os Ganaderos que têm de dar comida aos toiros e infelizmente tiveram de matar muitos sem os ver em praça; heróis são os Artistas que têm de sustentar as suas Famílias e as suas quadras e são todos os Toureiros. Eu limitei-me a tentar dar lugar a todos com as limitações que tínhamos. 

    E que balanço faz da temporada de abono no Campo Pequeno?
    Para mim a Catedral estar com seis espectáculos é um orgulho para qualquer aficionado e muito mais para um Promotor. A Praça foi-me entregue a 10 de Julho e de imediato se trabalhou para que a primeira Corrida fosse dia 30. Ninguém imagina o que é isto, o que pensamos e o que passamos. No plano Ganadero acho que não houve falhas na apresentação e no trapio dos toiros que ali saíram. Pode-se gostar mais desta ou daquela Ganadaria mas a verdade é que nesse aspecto não existiram falhas. A nível de cartéis a situação é idêntica. Foram os possíveis e lutando com muitas "forças" ocultas...Nem Quero falar nisso. Quem esteve comigo continuará a estar. A nível de público acho que fiquei aquém do que esperava e foi triste. Mas a pandemia está aí e sei de muito boa gente que não foi a Lisboa porque não quis arriscar. Mas esse é talvez o maior triunfo da temporada é que não houve nenhum surto de Covid nos espectáculos culturais. É mais um motivo de orgulho. 

    Todos os empresários, julgo eu, ambicionam chegar ao tauródromo lisboeta. O Luís Miguel possivelmente também sempre sonhou com isso, e agora que já teve essa oportunidade, que opinião tem sobre ser empresário do Campo Pequeno? Era o que esperava? É rentável?
    Começo pelo fim: neste momento não! Com o IVA a 23% e sem ter subido os preços dos bilhetes andamos a trabalhar para manter a Festa. E digo manter porque numa Corrida nós como Promotores conjugamos todos os outros intervenientes. Somos nós que montamos a corrida , somos nós que arriscamos o nosso dinheiro e que damos as condições a que todos saiam satisfeitos: Toureiros, Ganaderos, Forcados e o Público todos saem bem de uma corrida e nós ficamos a contar o dinheiro e a fazer contas à vida. Eu sonho muito e ainda bem porque um Promotor tem mesmo de sonhar os espectáculos e sonhar com as casas cheias. No dia em que deixar de sonhar não posso promover nada porque é sinal que já nem acredito nos sonhos. A dificuldade é tornar os sonhos realidade e principalmente que sejam rentáveis.

    Mas existiu algum cartel que, se fosse hoje, teria montado de forma diferente? E porquê?
    Disse acima que tive dificuldade em montar os cartéis. Não vou aqui especificar nem dizer nomes. Mas anda muita gente enganada a pensar que as empresas e os promotores ganham dinheiro à conta deles. Gostaria que pelo menos um ano alguns intervenientes da nossa Festa fossem promotores/empresários. A sério que gostaria de assistir. Eu sou um insatisfeito por natureza e quero sempre mais. Poderia ter feito melhor? Talvez! Foi o possível naquela altura? Foi! Na Tauromaquia temos muitos treinadores de bancada muitos pseudo-jornalistas e pseudo-criticos que nunca arriscaram um cêntimo na Festa mas que acham que sabem tudo. Primeiro criticavam que não haveriam corridas, que quem ficou com Lisboa não era taurino, etc, etc. Foi tanta estupidez que se escreveu que até aflige. Depois criticavam cartéis sem saberem o que se passava. Antes de me criticarem por não vir A , B ou C porque não foram perguntar ao A, B ou C porque não vieram??? Tenho orgulho nos cartéis e nos Toureiros que comigo estiveram este ano. Tenho pena de não ter trazido outros mais e não ter montado a Feira Taurina de Lisboa. Mas sabe porque não a montei? Não tive Toureiros... E mais não digo...

    E por isso em seis espectáculos acabou por repetir alguns cavaleiros 3 vezes? Serviu também para demonstrar que triunfar em Lisboa compensa?
    Sim, foram três vezes e nunca sairam mal ou foram má aposta. Era para só tourear duas mas como de repente no cartel de seis cavaleiros fiquei "fora de pé" tive de pedir ao Duarte Pinto e ao Manuel Ribeiro Telles que me ajudassem e viessem eles. E estou em falta com o Manuel. Agradeço aos dois a compreensão e a ajuda pois ao me ajudarem estão a ajudar a Festa . 

    Em Julho, numa entrevista que nos concedeu, indicou estar convicto de que “acho que os três primeiros cartéis que irei apresentar irão esgotar”. Infelizmente, mesmo com uma lotação permitida mais reduzida, e contrariando as suas expectativas, nenhum dos cartéis conseguiu encher por completo o Campo Pequeno. Na sua opinião porque isso aconteceu?
    Estava convicto! Nunca pensei que a pandemia fosse afectar tanto as corridas e principalmente a Catedral! Houve medo e falta de dinheiro. E talvez a confirmação das minhas suspeitas de que as quintas-feiras já deram o que tinham a dar. Sexta ou sábados. Já não há aficionados para virem de longe e saírem de Lisboa às tantas para regressarem às suas casas. depois não tivemos turistas e os nossos emigrantes. Foram todos estes factores conjugados que não levaram a efetivar corridas cheias.

    E foi também esse o principal motivo por afinal se terem realizado 6 corridas e não mais? Já que na altura também nos disse que “Se o público assim o quiser poderemos ter mais corridas”.
    Não foi só o público. Como disse acima foram os intervenientes... 

    Este ano, apostou apenas em toureiros nacionais em Lisboa. Contudo já se fala que em 2021 pondera contratar 2 grandes figuras do rejoneio, Pablo e Ventura, a quem se supõe cobrarem cachet elevado. Quando ainda existem muitas incertezas sobre o que será a vida, e claro, a temporada no próximo ano mas supondo que se mantém a limitação na lotação das praças de toiros, como conseguirá suportar o cachet de tais figuras? Aumentar preço dos bilhetes?
    Gostaria que Pablo e Ventura regressassem a Lisboa! Irei tentar que seja uma realidade. Assim como espero trazer uma ou duas Figuras do Toureio a Pé que tenham interesse em tourear na Catedral. Não daqueles que não aparecem... O cachet terá de ser o razoável para as condições que atravessamos e penso que os dois respeitam a Catedral Mundial do Toureio a Cavalo e que venham. Nem tudo na vida é dinheiro. Há o respeito, o agradecimento a um público que os respeitou e idolatra. Penso que será possível pois estou disposto a isso! Amanhã mesmo tenho reuniões em Espanha. A Catedral, a cidade de Lisboa, tem de estar no circuito internacional. Dentro das nossas limitações mas com a nossa tradição de sermos muito bons naquilo que fazemos. Rui Bento conseguiu isso. 

    E que outras ideias já tem pensadas para o abono lisboeta do próximo ano? Deduzo portanto que se vão acabar as corridas nas noites de quintas-feiras, como é tradição em Lisboa…
    Pode acabar essa tradição sim, se as datas dos concertos e de outros eventos o permitam. Não há lógica nos tempos que vão correndo. O fim-de-semana é o tempo de lazer. A maioria das pessoas trabalha à sexta-feira e fazia um esforço enorme para estar presente, principalmente os que chegam de diversos pontos do país. A Tauromaquia é uma cultura popular e nunca foi elitista. E todos querem vir a Lisboa aos toiros. Se tivermos corridas à sexta ou ao sábado à tarde, volta a ser um passeio cultural familiar. E está tudo a ser pensado e estudado. 

    Pouco depois de terminada a Temporada de Lisboa, foi conhecido também o voto de confiança da Plateia Colossal, gestora do Campo Pequeno, na sua recondução por mais um ano. Que feedback teve da PC sobre o trabalho da Ovação & Palmas em Lisboa?
    A empresa que ficou com o Centro de Lazer do Campo Pequeno não se mete nem avalia a parte Tauromáquica. Quer que se cumpra o contratualizado mas não são contra nem a favor, são simplesmente gestores de um edifício que se iniciou como Praça de Toiros mas que hoje é um multiusos e que como tal tem de ser rentabilizado. E como saberá estavam muitos espectáculos programados que foram cancelados devido à pandemia. Não puderam trazer os artistas internacionais com 50% de público pois com o palco e com menos gente na arena tudo isso era incomportável. Admiro bastante os esforços dos actuais proprietários não só pelo percurso profissional mas também pela forma como defendem a Cultura.

    Mas acha que isso já é a “profecia” que o Luís Miguel disse numa entrevista “Se eu ficar com o Campo Pequeno será difícil de lá sair” a concretizar-se?
    Normalmente assim acontecia com as praças por onde andei. Mas a verdade é que ninguém sabe o amanhã. Se lhe disser que depois de anunciado que continuaria no Campo Pequeno, mesmo assim,  foram enviadas duas ou três propostas você nem acreditaria... Deixem-me trabalhar é o que eu peço. Não dêem mais cabo da Tauromaquia é o que exijo. Tenho de cumprir o que contratualizo e trabalhar com afinco e profissionalismo. Respeito, educação, saber estar fica bem a todos. O meu projecto é para estar o tempo que eu e quem manda achar necessário. 

    E em 2021 o Luís Miguel manter-se-á à frente dos destinos das praças de toiros do Cartaxo, de Estremoz, da Azambuja, da Terrugem, de Idanha-a-Nova e de Arruda dos Vinhos? Vai acrescentar ou deixar alguma?
    Tudo indica que ficarei nessas. Não sei se irá mais alguma a Concurso mas posso ter interesse dependendo da Praça. 

    Nessas três últimas não foram realizadas corridas este ano. Foi pelo facto da capacidade das respectivas praças de toiros, com todas as limitações impostas, não compensar ali a realização de festejos?
    Foram os Municípios que não quiseram em dois casos e noutro a proprietária. Compreendo. Mas urge que a Associação de Empresários interceda junto da IGAC e da DGS para que se suba a lotação das praças de 30% para 50% e as de 50% para 75% para que se possam abrir mais praças e se possam pensar em situações mais alargadas.

    Como prevê que venha a ser a Temporada Tauromáquica de 2021?
    Neste momento nada lhe posso dizer. Em Espanha vão começar a vacinar em Janeiro. Aqui ainda não sabemos. Se se mantiverem as medidas do ano transacto e subirem mais as lotações poderão abrir mais praças. Está provado que não têm sido nos espectáculos culturais que se apanha o vírus. Os hábitos vão mudar isso todos sabemos. Mas o principal é como irá reagir a economia. Essa é a nossa maior incógnita e deverá ser a de todos os intervenientes da Tauromaquia. Reduzir ainda mais o número de corridas não me parece ser a opção mas neste momento fazer previsões são apenas tiros no escuro. Tenho já algumas Ganadarias contratadas, Toureiros também, sejam Cavaleiros ou Matadores. Não me venham com bairrismos e situações de pressão deste ou daquele. Vem quem tiver de vir. A Catedral de Lisboa, o Campo Pequeno é o corolário lógico de qualquer português que seja Artista. Mas como Promotor eu tenho de sentir que pode marcar a diferença. Quem o fizer vem e se triunfar repete. Vamos ver como reagem às contratações e a forma e o conteúdo de quererem ou não manter a nossa Festa.
    Temos de perceber que, mal ou bem, a Cultura Tauromáquica abriu as portas. Há gente dos meios artísticos a passar fome: Actores, Artistas,Técnicos de Luz e de Som, Empresários, Pintores, Escultores, Escritores. A Cultura a par com a Restauração e a Hotelaria em geral estão de rastos e vão demorar a levantar-se. E muitos já não voltam. Não somos subsidiados e somos os mais atacados. Mas como diz um amigo meu "temos de agir em vez de reagir" e o que a Tauromaquia tem feito nestes últimos anos é limitar-se a reagir. Chegou a hora de agir e exigir o lugar que é nosso por direito. Nós somos uma marca importante! Turisticamente todos podem vender praias, sol, comida, bebida. Temos muita concorrência. Touradas à Portuguesa com os nossos Forcados só nós é que temos! A estupidez, o nacional saloísmo que impera em alguns dos nossos políticos leva-os a assobiar para o lado e a deixarem a Tauromaquia de fora de todos os investimentos. Nós somos um produto cultural muito vendável. Temos de agir e deixar de olhar para o próprio umbigo. Há que haver mais profissionalismo, mais promotores e viverem do negócio. Serei o único? Talvez não. Mas às vezes penso que sim.




    Fotografia: Emílio de Jesus/DR