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    Beja: "Em 15 anos muita coisa mudou..."


    Com um considerável delay mas nunca tarde demais, dou início a um novo escrito reflexivo. Com a vantagem de já conhecer(em) a opinião dos meus pares, a tinta da minha caneta vem apenas traçar as linhas que deviam ser mestras e que por norma os batedores de palmas (entre eles, desde toureiros a publico, e toda a classe que compõe a festa) não consentem.

    A Corrida Ovibeja voltou a ter uma entrada não condizente com a categoria que glorificava a data. Não é deste ano, nem do passado, e nem antes do bicho andar por aí. Não me recordo de um sucesso de bilheteira nesta data há muitas (muitas!) temporadas... O cartel não era condizente com o dia, com o motivo e destaque maior da corrida, o aniversário de reativação dos Amadores de Beja, o grupo que é mesmo da sua terra, Beja. Foi o possível tendo em conta as "obrigações" que a empresa arrendatária da data foi alvo. É o que temos e todos sabemos, seja em Beja, Lisboa, norte ou sul, existem sempre "cláusulas" com alíneas que convém ler. Consegui-se meia casa com ambiente, tanto ou mais que muitas tardes com mais meia dúzia de pessoas que a Varela Crujo albergou. O piso desta arena continua a ser inconstante e uma incógnita, e desta feita a camada superficial estava tão solta que a rega que lhe foi administrada não chegou para a seca que se vive por estas terras alentejanas, pois rapidamente o maldito pó se voltava a sentir. É algo que urge antecipar e cuidar em todas as praças do país.

    Das Sesmarias Velhas do Guadiana, casa que conheço desde que sou gente, veio um curro com idade e fenótipo padrão do encaste, embora com mais expressões dos últimos investimentos em sangue Torrestrella. De esqueleto curto e pequeno, só o primeiro e sexto se impunham como Toiros feitos, os demais anovilhados e a carecer do trapio que tem faltado tanto nesta arena centenária. Fáceis e de cariz generoso a maioria, a transmissão foi apenas sinal visto em reuniões altas e vibrantes de alguns dos exemplares, a nota positiva a uma corrida que faltou casta e seriedade.

    A Festa dos Amadores de Beja, 15 anos depois, foi um viagem cronológica de forcados, famílias e momentos que marcam a Tauromaquia na antiga Pax Júlia. Há 15 anos, estreavam-se homens que hoje passam a sobrinhos, primos, irmãos, a responsabilidade de dignificar a amizade, o orgulho e a honra de envergar a jaqueta de um Grupo de Forcados, ontem, hoje e sempre, resistentes do romantismo taurino. Em tempo de revolução interna, a transição é notória, e o grupo dá hoje a sua cara com um leque de jovens promissores e que tentam seguir os passos daqueles que há 15 anos quiseram reativar uma importante parte da Tauromaquia bejense.

    Miguel Sampaio, atual cabo, podia e devia ter permanecido no primeiro encontro da pega que abriu praça. Embalado pela emoção da data, das Homenagens e perante a responsabilidade do seu público, à segunda agigantou-se e deu um mote para uma prestação segura do seu Grupo. Manuel Almodovar, forcado de coração e o principal obreiro desta nova vida dos Amadores de Beja, esteve exímio com o segundo da tarde, mandando na investida do seu oponente e realizando um intento digno daquilo que fez e deu ao Grupo.
    Ricardo Castilho, nome consagrado mas já fora do ativo, mantém a mesma vontade e garra que lhe é característica. Duas tentativas duras e inesperadas para o grupo, fizeram todos agigantar-se para a terceira, tendo consumado como se pedia.
    Mauro Lança, que viveu os seus grandes momentos como forcado nas últimas temporadas, teve nos seus braços um dos momentos da tarde na pega do quarto. Cite toureiro e sentido, calmo e seguro, mandou num toiro que saiu com a energia suficiente para proporcionar uma grande pega, aguentando vários derrotes e uma viagem longa que o Grupo, irrepreensível, suportou. Um hino à arte de pegar toiros.
    Olavo Baião, forcado também retirado, teve um desempenho pouco correcto mas muito decidido e valente, aguentando a brusquidão do Toiro e fechando-se com mérito à segunda.
    Tiago Graça, um dos mais antigos no ativo, foi escalado para o último e esteve como se pedia diante dele, com querer e vontade de consumar com sucesso a sua derradeira pega. Aguentou com firmeza a viagem e consumou à primeira tentativa.

    A parte equestre resume-se no temple e qualidade do cavalo Campo Pequeno de João Moura Caetano e na entrega e disposição de Andrés Romero. Caetano deu importância à lide, a entender o Toiro e a escolher os terrenos certos para conseguir uma prestação a mais. O terceiro ferro curto é de grande nível e a importância da lide divide-se com a qualidade da montada.
    Andrés Romero veio à procura de revolucion em Beja, e conseguiu em vários momentos alinhar toiro e montada nos embroques, o que é sempre motivo de regozijo. Não valorizou a lide por completo mas a sua efusividade e raça a cravar, galvanizou as bancadas.

    Luís Rouxinol abriu praça como uma prestação discreta até à fase final com o Douro, que ladeou com um Temple e segurança fora do normal; Tito Semedo intermitente e sem grandes recursos, esteve igual a si mesmo; Miguel Moura e Salgueiro da Costa não foram o suficiente decididos para contrariar com sucesso iminente as adversidades dos seus oponentes.

    Dirigiu com acerto Domingos Jeremias e abrilhantou a Sociedade Filarmónica Capricho Bejense, uma corrida onde foram Homenageados, para além dos Forcados, António Jorge Covas Lima, amigo e fiel seguidor do grupo da Casa, e Paco Mendes, matador de toiros local.

    Pedro Guerreiro

    Fotografia: Luís de Brito