• terça-feira, 30 de maio de 2023

    Moita: "É impossível ficar indiferente a Diego Ventura"


    A Praça de Toiros Daniel do Nascimento recebeu no passado dia 28 de maio a tradicional corrida de toiros da Feira de Maio da Moita. O cartel apresentado juntava diversos motivos de interesse que levaram a uma resposta cabal por parte do público, que encheu a Daniel do Nascimento.

    O principal motivo de interesse era o regresso de Diego Ventura a Portugal, figura ímpar da tauromaquia mundial e que é neste momento o cavaleiro que mais interesse suscita no público, seja onde for. Outros dos motivos era naturalmente a alternativa de Paco Velásquez, que se tornou o mais recente Cavaleiro Tauromáquico de Portugal, tendo como Padrinho de Alternativa o cavaleiro Rui Fernandes. Em praça estiveram os Grupos de Forcados Amadores de Alcochete e do Aposento da Moita.

    Do ponto de vista ganadero foi anunciado um curro da ganadaria Passanha. Do Monte da Pina veio um curro de toiros díspar de tipo e de comportamento. Destaque para os toiros lidados em segundo, quinto e sexto lugar, estes dois últimos com direito a apresentação do lenço azul por parte do Diretor de Corrida, que autoriza o ganadero a dar a volta à arena.

    Tem de ser dado também destaque para o Programa de Mão distribuido à entrada da Praça. Excelente iniciativa que permite dar a conhecer em maior pormenor os principais intervenientes da tarde. Fica o desafio de tornar mais frequente estas iniciativas e ainda o desafio suplementar de dedicar mais espaço aos toiros e ao ganadero. Fica a congratulação a todos os envolvidos.

    No início do espectáculo guardou-se um minuto de silêncio em memória de José Perdigão e de Aníbal Pinto.

    Para abrir a tarde saiu o nº49, com um peso de 475kg. Toiro negro, bem feito, sério por diante e muito bem armado. Foi o toiro com mais trapio da tarde, destacando que trapio não é diretamente proporcional ao que mostra a balança. Saiu sem grande mobilidade, com dificuldade em fixar-se no cavaleiro, sem transmitir no momento do ferro e sem se empregar verdadeiramente. Paco Velásquez teve uma passagem correta na sua lide de Alternativa, mas que acabou por não resultar em triunfo. Foi na ferragem curta que consegui obter os melhores momentos, com destaque para o segundo curto e para o ferro de palmo que encerrou a actuação. Neste último conseguiu uma reunião ajustada e conseguiu entrar com valor pelos terrenos do toiro.

    Para a cara do primeiro Passanha foi o forcado João Dinis, dos Amadores de Alcochete. Esteve algo acelerado a citar, mas carregou bem a sorte e conseguiu aguentar com valor os derrotes do toiro, que viajou com a cara alta e a derrotar, até que o grupo conseguiu consumar a pega. 

    Volta autorizada para cavaleiro e forcado.

    Em segundo lugar saiu mais um toiro negro, com o nº 26 e com um peso de 510kgs. Bonito exemplar, bem feito e bem posto de cara. Saiu com mobilidade e a querer perseguir a montada com o reconhecido tranco do encaste Murube. Demonstrou prontitude e fijeza durante a lide. Bom toiro de Passanha que permitiu a Rui Fernandes desenhar uma boa faena. Uma vez mais os melhores momentos chegaram nos ferros curtos, sobretudo nos dois primeiros, onde conseguiu que as reuniões resultassem mais cingidas e com emoção. Destacam-se também os bonitos momentos de ladeio, a levar o toiro colado ao cavalo. Boa actuação!

    A abrir a tarde pelo Aposento da Moita foi o cabo, Leonardo Mathias. Esteve bem a citar, a aguentar até carregar a sorte no momento certo e a conseguir fechar-se de forma segura e com o grupo a ajudar de forma eficaz consumou-se a pega ao primeiro intento.

    Em terceiro lugar saiu o nº25, com 540kgs. Toiro mais forte e rematado de carnes, mas feio de hechuras e com pouca cara. Desde cedo apresentou pouco recorrido e demonstrou pouca vontade de se empregar. Denotou alguma falta de força e não beneficiou em nada das intervenções dos bandarilheiros. Diego Ventura não teve a actuação sonhada no seu primeiro toiro. Nos compridos tentou dar vantagens, mas as sortes acabaram por não resultar em pleno. Nos curtos tentou andar ligado com o toiro, acabando por ter uma actuação regular, mas sem chegar com força às bancadas.

    Pelos Amadores de Alcochete foi cara o forcado Manuel Pinto, uma das referências do grupo. Esteve bem a citar e a carregar a sorte, conseguiu fechar-se e com o grupo coeso a ajudar, com destaque para um dos segundos ajudas, a pega consumou-se à primeira tentativa. 

    Volta autorizada para o cavaleiro e forcado, com Diego Ventura a recusar-se a sair à arena.

    A segunda parte da corrida iniciou-se com a lide do nº35, com um peso de 495kgs. Toiro negro, bragado meano, com pouca cara e com trapio insuficiente para uma praça como a da Moita. Saiu com mobilidade mas veio a menos com o decorrer da lide. Rui Fernandes procurou chegar ao público com ferros a curtas distâncias, aguentando com valor a tarda investida do Passanha, e com adornos nos remates das sortes. Lide correcta, mas longe do que conseguiu no primeiro do seu lote.

    Para a cara do quarto toiro da tarde foi o forcado João Freitas. Esteve bem a citar, a deixar-se ver. Carregou algo cedo a sorte, mas esteve exemplar a recuar e a reunir da melhor forma. Uma vez mais o grupo ajudou bem e pega foi consumada à primeira tentativa.

    Em quinto lugar saiu mais um toiro bonito, com o nº39 e com 470kgs, muito na linha do primeiro toiro da tarde, bem posto de cara e bem feito. Saiu com muita mobilidade e a humilhar nas investidas. Toiro com muita qualidade enquanto teve motor, tendo como principal defeito esperar no momento do ferro. Mais um toiro interessante. Diego Ventura aproveitou da melhor forma as características do seu oponente, conseguindo chegar com grande força às bancadas nos momentos em que levou o toiro com o cavalo a duas pistas, mas sobretudo com os ajustados recortes que desenhou ao longo da lide. A nível dos ferros e montando o cavalo Fabuloso conseguiu três ferros que marcaram a tarde! Se no primeiro e no segundo conseguiu que as sortes resultassem vibrantes, no terceiro ferro curto era impossível conseguir uma reunião mais ajustada. Decidiu atacar e com o cavalo a conseguir tirar-se da cara do toiro no último instante, deixou sem dúvida um grande ferro! Já com o público num alvoroço sacou o Bronce e, após retirar a cabeçada ao cavalo, deixou mais um ferro, seguido de múltiplos adornos, que puseram a praça em pé. Goste-se mais ou menos (e a última parte da actuação não pode ser unanime entre os verdadeiros aficionados do toureio a cavalo), a verdade é que ninguém fica indiferente a Diego Ventura, que se apresenta claramente como o número 1 neste momento. Fechou em apoteose a sua actuação por terras moitenses.

    Para fechar a tarde pelos Amadores de Alcochete foi o forcado João Henriques. Esteve bem a citar e a carregar a sorte, mas não conseguiu fechar-se na primeira tentativa. Na segunda conseguiu corrigir o momento da reunião e o grupo consumou a pega. 

    Volta autorizada para o cavaleiro, forcado e ganadero. Este último acabou por não dar volta. Forte petição do público para que Diego Ventura desse a segunda volta à arena.

    Em último lugar saiu o nº 60, com 550kgs. Mais um toiro forte e rematado de carnes, com pouca cara. Saiu com mobilidade e a investir com qualidade nos capotes. Foi mais um toiro com opções e com qualidade. Paco Velásquez acabou por ter uma actuação onde esteve bem no momento da cravagem dos ferros, aproveitando a pronta arrancada do Passanha. Contudo, destaque negativo para as sucessivas intervenções dos bandarilheiros para que o toiro ficasse colocado para os ferros, é fundamental não descurar o momento da brega. Aspecto importante a ter em conta para as próximas actuações.

    Para encerrar a tarde foi o forcado André Silva, do Aposento da Moita, numa execução técnica exemplar, tanto a citar, como a carregar a sorte e no momento da reunião. Boa pega!

    Volta autorizada ao cavaleiro, ao forcado e novamente ao ganadero, esta última merecida como prémio global da tarde, tendo em conta o bom jogo dado por três dos toiros lidados esta tarde.

    A corrida foi dirigida por Fábio Costa, assessorado por Carlos Santos e com presença do cornetim José Henriques.


    Diogo Felício